terça-feira, 29 de abril de 2014

Aos Moldes de Maria para uma nova roupagem ao Ministério de Música e Artes - Parte 2 (carta aos artistas - março de 2014)


A cada mês temos feito reflexões para nosso ministério, olhando sempre para Maria como espelho e modelo a ser imitado. Sobretudo, temos olhado para ela como Mãe. Por meio de cada proposta nos esforçamos mês a mês, para mover todos os artistas a viverem experiências profundas com nossa Mãe Maria, de tal forma que essa experiência nos configure a Jesus Cristo.

No mês de fevereiro, refletimos sobre a visita de Maria a sua prima Isabel e como essa visita proporcionou vida e fecundou o comportamento de João Batista, segundo as palavras do Papa Francisco: “A fonte deste comportamento de João Batista está no encontro de Maria e sua prima Isabel, quando João pulou de alegria no ventre de sua mãe”. Naquela ocasião refletimos também sobre a humildade de João Batista e percebemos o quanto ainda precisamos crescer nessa virtude. 

Na carta deste mês, como introdução, iremos utilizar um texto do livro Glórias de Maria, de Santo Afonso de Ligório. Vejamos: 

Como reflete Sto. Ambrósio, foi Maria a primeira a saudar Isabel. Sua visita trouxe àquela casa um acúmulo de graças. Com efeito, mal entrara e saudara seus habitantes, ficou já Isabel cheia do Espírito Santo, e João livre de toda culpa e santificado. Por isso deu aquele sinal de júbilo, exultando no ventre de sua mãe. Queria com isso manifestar as graças recebidas por meio de Maria, como declarou a mesma Isabel: Porque assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino exultou de prazer em minhas entranhas (Lc 1,44). Em virtude dessa saudação, observa Bernadino de Busti, recebeu João a graça do Divino Espírito Santo, que o santificou.
Para dar continuidade à nossa reflexão, vamos olhar novamente para João Batista, profeta destemido que anunciava a boa nova e exortava a todos sobre os males do pecado (cf. Lc 3,18). A mesma graça do Espírito Santo que santificou João Batista também o revestiu de coragem profética. Ele anuncia e denuncia, sem medo, na ousadia de quem compreendeu sua missão. Nem a prisão o faz temer, nem o perigo de morte o faz calar. Seja no deserto, nas margens do Jordão ou no cárcere, João Batista continua firme naquilo em sua vocação.

Preparação para a missão

O evangelista Lucas apresenta duas cenas com características bastante semelhantes. Em Lc 1,80 escreve, referindo-se a João Batista: “O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel”; e em Lc 2,52, a respeito do menino Jesus, dizia: “E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.” Certamente, Lucas pretende mostrar que tanto o ministério de Jesus quanto o de João Batista, realiza-se de modo “crescente”. Eles “cresciam”, sobretudo, na consciência da vocação que deveriam assumir. 
Para João Batista, de modo particular, estar fortificado em espírito era pressuposto necessário para a missão que tinha pela frente. O tempo em que viveu no deserto foi fundamental para sua experiência do desapego total e para o fortalecimento do espírito através de uma vida de intimidade com Deus. Sem esse processo de formação ele não teria condições de “se apresentar diante de Israel” e exercer o seu ministério. 
Irmãos e irmãs, é preciso perceber que a “manifestação pública” (grego = anadeikseos) de João Batista é precedida por um processo de formação que passa pela “fortificação do espírito” e pelo tempo de “vivencia no deserto”. Esses são, sem dúvidas, pontos fundamentais para nossos ministérios de música e artes nos dias de hoje.
O exercício do nosso ministério implica necessariamente em uma manifestação pública. E, quantos não sonham com esse dia? No entanto, perguntamos: poderia Deus permitir tal manifestação se não estivermos obedecendo ao processo de preparação? João Batista, indagamos, teria chegado ao grau máximo de sua vocação, ou seja, ao martírio, se não tivesse passado por toda essa necessária preparação ministerial? E nós, chegaremos ao grau máximo de doação se não seguirmos esses mesmos passos e não nos deixarmos moldar por este santo exemplo?
É certo que sem a fortificação do espírito e a experiência de intimidade com Deus, que somente o “deserto” pode proporcionar, não suportaríamos os desafios que decorrem de uma “apresentação diante de Israel”, isto é, enfrentar a realidade de nosso tempo. Não tenho dúvidas de que é essa falta de preparação que tem levado muitos músicos, artistas e ministérios inteiros ao abatimento.

A exigência da vocação e o dom do martírio

O Filho de Maria, Jesus Cristo, recebeu o batismo por meio de João, o filho de Isabel. João batizou Jesus. E quem batizou João? Quem nos responde é São Beda Venerável: “Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo”.
Ser “batizado no próprio sangue” pode parecer um triste fim, se nossa análise permanecesse apenas sob a ótica humana. Mas, ao contrário, João Batista foi contemplado com o dom do martírio, uma digna participação na cruz de Cristo, a maior gloria que alguém pode receber nessa vida. A verdadeira glória de João Batista, irmãos, não está no “sucesso” de sua pregação. O número de pessoas que iam a ele e se convertiam não lhe resultaria em um prêmio maior do que aquele que recebeu através do martírio: a coroa da vida eterna! Em sua sinfonia profética, a pausa ocasionada pelo martírio ressoa aos ouvidos de Deus com maior intensidade e vibração que a potência do som de sua voz profética às margens do rio Jordão. Se suas exortações são admiradas, mais admirável é o dom de seu martírio. Quando calam a voz de um profeta, então, o silêncio de sua morte nos permite escutar com maior clareza a reverberação da verdade por ele anunciada. Foi exatamente isso que aconteceu: João Batista foi cruelmente calado a dois mil anos atrás e, ainda hoje, no silêncio de cada celebração eucarística, continuamos ouvindo a mesma verdade por ele anunciada: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”
Depois de “clamar no deserto”, a voz de João Batista foi silenciada dentro do palácio de Herodes. Perguntamos: o que mais incomodou a Herodes? A intrépida voz de João no deserto da Judéia e às margens do rio Jordão, ou o silêncio constrangedor que encerrou a música e fez parar a dança em seu Palácio, enquanto lhe era apresentada a cabeça de João Batista numa cesta de prata?
O silêncio de João Batista foi fruto de um martírio. João Batista foi santo e acolheu o martírio. Não foi o martírio quem o fez santo, mas a sua santidade que o tornou mártir. Paralelamente, o silêncio de Maria foi fruto da humildade. Maria, toda santa, silenciava pela humildade. Seu silêncio não é fruto de omissão, mas da humildade própria de quem “sabe guardar tudo no coração”. O silêncio de Maria fala mais que todos os profetas do Antigo e do Novo Testamento, pois faz ecoar a pureza da voz de seu Filho. 

Conclusão
Irmãos e irmãs, as vezes esperamos que o exercício de nosso ministério nos ajude a ser santos. Na verdade, ao contrário do que pensamos, será a nossa santidade que nos ajudará a manifestar a verdadeira arte. Não é a arte que produz santos, mas a santidade que revela a verdadeira arte, como eco da arte criadora de Deus.
Deixemos Deus nos preparar através de um caminho de “fortificação do espírito”. Permitamos que o Espírito Santo nos conduza ao deserto, lugar de intimidade com Ele. Aproveitemos este tempo para treinarmos e nos fortalecer, pois virá o momento em que estaremos “diante de Israel” e precisaremos dessa experiência do deserto, pois naquela hora, somente os santos poderão resistir até o fim.
Enquanto puderem: proclamem com a arte e com voz forte a verdade divina! Mas se calarem a vossa voz e o silêncio se tornar vossa única saída, abrace-o e façam dele o vosso melhor instrumento de evangelização. Naquela hora, aos moldes de Maria e a exemplo de João Batista, o vosso silêncio reverberará a verdade que vocês vivem.
Abraço fraterno, Rogério Soares.
Irmãos, oremos. Busquemos em nossa Senhora o auxílio para a nossa “fortificação do espírito” e que rogue para que cada um de nós seja santo e assim recebamos o dom do martírio.
Rogério, muito obrigado por suas palavras tão inspiradas pelo Espírito. O Ministério de Música e Artes de todo o Brasil te é muito grato. Deus lhe pague!
Um grande abraço desse pobre pecador:






Coordenador Nacional do Ministério de Música e Artes RCCBRASIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário